Homilia

Papa reza pelos que permanecem amedrontados com a pandemia

Na manhã desta segunda-feira, 30, Francisco pediu a Deus que ajude aqueles que não conseguem reagir diante da pandemia e convidou os fiéis a agradecerem a Deus por Sua misericórdia

Da redação, com Vatican News

/ Foto: Vatican Media

A Antífona de entrada da segunda-feira da 5ª Semana da Quaresma é uma veemente invocação a Deus: “Tende piedade de mim, Senhor, pois me atormentam; todos os dias me oprimem os agressores” (Sl 55,2). Ao introduzir a Missa, na manhã desta segunda-feira, 30, o Papa Francisco dirigiu seu pensamento às pessoas amedrontadas com a atual pandemia: “Rezemos, hoje, pelas muitas pessoas que não conseguem reagir: permanecem amedrontadas com esta epidemia. Que o Senhor as ajude a reerguer-se, a reagir para o bem de toda a sociedade, de toda a comunidade”.

Na homilia, o Pontífice comentou as leituras do dia, extraídas do Livro do profeta Daniel (13,1-9.15-17.19-30.33-62) e do Evangelho de João (Jo 8,1-11), que falam de duas mulheres que alguns homens querem condenar à morte: a inocente Susana e uma adúltera pega em flagrante. Francisco ressaltou que os acusadores são, no primeiro caso, juízes corruptos, e, no segundo, hipócritas.

Em relação às mulheres, o Santo Padre observa que Deus faz justiça a Susana, libertando-a dos corruptos, que são condenados, e perdoa a adúltera, libertando-a de escribas e fariseus hipócritas. Justiça e misericórdia de Deus, que são bem representadas no Salmo Responsorial do dia: “O Senhor é o meu pastor, não me falta coisa alguma… Mesmo que eu e pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, porque estais comigo”. Em seguida, o Papa convidou os fiéis a agradecerem a Deus, pois sabem que são pecadores e podem pedir confiantes, ao Senhor, que os perdoe.

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Íntegra da homilia

“No Salmo Responsorial rezamos: “O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha, e restaura as minhas forças. Ele me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome. Mesmo que eu e pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. Estais comigo com bastão e com cajado, eles me dão a segurança!”

Essa é a experiência que essas duas mulheres tiveram, cuja história lemos nas duas Leituras. Uma mulher inocente, acusada falsamente, caluniada; e uma mulher pecadora. Ambas condenadas à morte. A inocente e a pecadora. Alguns Padres da Igreja viam nessas duas mulheres uma figura da Igreja: santa, mas com filhos pecadores. Diziam numa bela expressão latina: “A Igreja é a casta meretrix”, a santa com filhos pecadores.

Ambas as mulheres estavam desesperadas, humanamente desesperadas. Mas Susana confia em Deus. Há também dois grupos de pessoas, de homens; ambos encarregados a serviço da Igreja: os juízes e os mestres da Lei. Não eram eclesiásticos, mas estavam a serviço da Igreja, no tribunal e no ensino da Lei. Diferentes. Os primeiros que acusavam Susana, eram corruptos: o juiz corrupto, a figura emblemática na história. Também no Evangelho, Jesus repreende – na parábola da viúva insistente – o juiz corrupto que não acreditava em Deus e não lhe importava nada dos outros. Os corruptos. Os doutores da Lei não eram corruptos, mas hipócritas.

E essas mulheres, uma caiu nas mãos dos hipócritas e a outra nas mãos dos corruptos: não havia saída. “Mesmo que eu e pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. Estais comigo com bastão e com cajado, eles me dão a segurança!” Ambas as mulheres se encontravam num vale tenebroso, caminhavam ali: um vale tenebroso, rumo à morte. A primeira explicitamente confia em Deus e o Senhor intervém. A segunda, pobrezinha, sabe que é culpada, envergonhada diante de todo o povo – porque o povo estava presente em ambas as situações, o Evangelho não diz, mas certamente rezava interiormente, pedia alguma ajuda.

O que o Senhor faz com essas pessoas? À mulher inocente, a salva, lhe faz justiça. À mulher pecadora, a perdoa. Aos juízes corruptos, os condena; aos hipócritas, os ajuda a converter-se e diante do povo diz: ”Sim, verdadeiramente? Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”, e foram saindo um a um. Há uma certa ironia do apóstolo João, aqui: “E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos”. Deixa a eles um pouco de tempo para arrepender-se; não perdoa os corruptos, simplesmente porque o corrupto é incapaz de pedir perdão, foi além. Cansou-se… não, não se cansou: não é capaz. A corrupção tirou-lhe também aquela capacidade que todos temos de envergonhar-nos, de pedir perdão. Não, o corrupto é seguro, segue adiante, destrói, explora o povo, como esta mulher, tudo, tudo… segue adiante. Colocou-se no lugar de Deus.

E o Senhor responde às mulheres. A Susana, liberta-a destes corruptos, a faz seguir adiante, e à outra: “Eu, também, não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”. Deixa-a ir embora. Faz isso diante do povo. No primeiro caso, o povo louva o Senhor; no segundo caso, o povo aprende. Aprende como é a misericórdia de Deus.

Cada um de nós tem as próprias histórias. Cada um de nós os próprios pecados. E se não se recorda, pense um pouco: os encontrará. Agradeça a Deus se os encontra, porque se não os encontra, você é um corrupto. Cada um de nós tem os próprios pecados. Olhemos para o Senhor que faz justiça, mas que é tão misericordioso. Não nos envergonhemos de estar na Igreja: envergonhemo-nos de ser pecadores. A Igreja é mãe de todos. Agradeçamos a Deus por não sermos corruptos, por ser pecadores. E cada um de nós, olhando como Jesus age nestes casos, confie na misericórdia de Deus. E reze, confiante na misericórdia de Deus, reze (pelo) perdão. ”Porque Deus me guia no caminho mais seguro, pela honra de seu nome. Mesmo que eu e pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. Estais comigo com bastão e com cajado, eles me dão a segurança!”.

Final da celebração

Francisco terminou a celebração com a Adoração e a Bênção Eucarística, convidando homens e mulheres a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:

“Aos vossos pés, ó meu Jesus, me prostro e vos ofereço o arrependimento do meu coração contrito que mergulha no seu nada na Vossa santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do vosso amor, desejo receber-vos na pobre morada que meu coração vos oferece. À espera da felicidade da comunhão sacramental, quero possuir-vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós. Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em vós, espero em vós. Eu vos amo. Assim seja”.

Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada uma antiga antífona mariana Ave Regina Caelorum (“Ave Rainha dos Céus”).

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