DEFESA DA FÉ

Concílio de Niceia combateu heresia que negava divindade de Jesus

Professor Felipe Aquino explica como padres e bispos lutaram contra o arianismo com o objetivo de restaurar a unidade da Igreja há 1700 anos

Gabriel Fontana
Da Redação

Ícone do século XVI retratando o Primeiro Concílio de Niceia com Ário representado na parte de baixo da pintura / Autor: Michael Damaskinos

Ao ser convocado há 1700 anos, o Concílio de Niceia teve como principal objetivo combater a heresia do arianismo, que não reconhecia a divindade de Jesus.

No início do século IV, um sacerdote de Alexandria chamado Ário começou a deturpar os ensinamentos sobre a grandeza e sublimidade de Deus. Professor de História da Igreja, Felipe Aquino explica que, para Ário, Deus é incomunicável. Dessa forma, tudo fora d’Ele é criatura, incluindo Jesus, e aí está a heresia.

“Para o herege, o Verbo de Deus não é Deus como o Pai, não tem a Sua mesma natureza (ou substância ou essência). Este é o cerne perigoso da heresia que destruía o cristianismo na raiz: Cristo é criatura excepcional, mas tirado do nada como as demais, antes de todos os séculos”, detalha Felipe Aquino.

O professor destaca que Ário, querendo distinguir de forma clara as três pessoas da Santíssima Trindade, manifestou que o Pai, o Filho e o Espírito Santo teriam diversas naturezas. Desta forma, afirmava que o Filho não era Deus como o Pai, sendo de uma natureza distinta.

Combate ao arianismo

Frente à disseminação dessa heresia e à divisão que ela causou, o imperador Constantino convocou, no ano 325, todos os bispos para um concílio, a fim de manter a unidade. Foi a primeira vez que a Igreja se reunia de forma universal.

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Entre as figuras que se destacaram no Concílio de Niceia, Santo Atanásio, que foi discípulo de Santo Antão e diácono do bispo Alexandre, argumentou que a Redenção não teria sentido se o próprio Deus não tivesse feito homem.

Professor Felipe Aquino / Foto: Arquivo Pessoal

Felipe Aquino explica a visão de Ário pontuando que, “se Cristo não fosse verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, não poderia ser o mediador necessário entre Deus e os homens”. Portanto, Jesus é Deus, não apenas um homem divinizado. Ele não é criatura, é o Criador – o Filho é consubstancial ao Pai.

“Santo Atanásio, cujo raciocínio era simples, profundo e irrefutável, insistia que o Verbo se fez homem para nos salvar, para nos fazer ‘divinos’, nos fazer participar da natureza divina; se não fosse Deus não poderia realizar esta obra”, acrescenta o professor.

Assistência do Espírito Santo

Para Felipe Aquino, “a assistência do Espírito Santo não faltou aos padres do Concílio de Niceia”. Ele recorda que todos os bispos, à exceção de dois, aceitaram e subscreveram o Credo escrito em parte por Santo Atanásio e que deu base para o surgimento do Credo Niceno-Constantinopolitano, cuja fórmula professa: “Cremos […] em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai […]”.

O professor registra ainda que alguns hereges tentaram resolver a questão com uma pequena mudança de grafia na palavra essencial da definição dogmática. Em vez de declarar “homousios” (que significa “da mesma substância, consubstancial”), propunham usar “homoiusios” (que significa “de substância semelhante”). “A diferença era um ‘i’, mas fundamental. Este artifício fazia diferença essencial e a Igreja não aceitou”, frisa.

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